Impactos do Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D

Os impactos do Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D, em particular da sua componente de avaliação internacional, foram analisados em detalhe pelo OCT no ano 2000. Os aspectos principais são sintetisados na Tabela 18.2.

Este Programa tem como base as instituições do ensino superior (salvo raras excepções universitárias) e as instituições privadas sem fins lucrativos, na maioria fortemente ligadas a instituições universitárias, em particular pela participação de professores universitários nas suas actividades e coordenação.

Com o Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D promoveu-se a organização das actividades científicas e tecnológicas universitárias numa malha básica de unidades de investigação da iniciativa dos próprios investigadores, com fronteiras flexíveis que se ajustam naturalmente na actualização anual de equipas de investigação, e mais profundamente de três em três anos em resultado das avaliações internacionais promovidas pela FCT, e que recebem financiamentos que lhes são exclusivamente destinados em função dos resultados das avaliações externas

Esta forma de organização institucional das actividades científicas e tecnológicas universitárias assegura unidades com muito maior flexibilidade, dinamismo, coesão e capacidade estratégica do que os departamentos universitários tradicionais, e permite constituir unidades interdisciplinares e interdepartamentais, ao mesmo tempo que contempla a interlocução directa entre os líderes das unidades de investigação e a FCT, com o consequente acréscimo de responsabilização e empenho, e de reforço das unidades de investigação e dos investigadores no meio universitário.

O sistema de organização, financiamento e avaliação da investigação universitária assim adoptado em Portugal tem características claramente vantajosas relativamente a muitos dos sistemas de organização, financiamento e avaliação adoptados noutros países:

·   Os sistemas que consideram apenas centros de excelência ou com missões específicas, alienando a possibilidade de estímulo, responsabilização e orientação da maior parte do sistema científico e tecnológico de base universitária pelas entidades com a responsabilidade da coordenação da política científica e tecnológica, e deixando-as às próprias instituições universitárias;

·   Os sistemas onde a avaliação e o financiamento institucional da investigação científica universitária são dirigidos aos departamentos universitários, frequentemente não os avaliando na totalidade, mas considerando fracções (muitas vezes minoritárias) decididas pelos próprios departamentos, onde além do desajuste entre as unidades orgânicas consideradas e a sua constituição - claramente inconveniente de um ponto de vista de gestão organizacional - fica dificultada a organização científica interdisciplinar e interdepartamental, são envolvidos interlocutores intermediários entre a entidade de avaliação e financiamento e os investigadores, ficam diluídas as responsabilidades e não são directamente estimuladas as lideranças científicas;

·   Os sistemas que envolvem uma matriz nacional de centros de investigação localizados junto às universidades, mas dependentes funcionalmente de uma estrutura nacional central com quadros próprios de investigadores e regras de gestão unificadas, que resultam em estruturas relativamente rígidas e dificilmente modernizáveis.

A organização das unidades de investigação em Portugal nos moldes previstos no Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D foi um passo estruturante para outras acções ambiciosas, nomeadamente para a constituição de um novo tipo de instituições de investigação – Laboratórios Associados – previsto em legislação de 1999, apesar de se encontrar referido em documentos programáticos desde 1995, e para o lançamento do Programa Nacional de Re-equipamento Científico em 2001 que foi expressamente dirigido às instituições de investigação avaliadas internacionalmente e aprovadas na sequência das avaliações.

 

Tabela 18.2 – Impactos do Programa de Financiamento Plurianual de Unidades de I&D

1. Nas actividades:

·   Aumento significativo de publicações internacionais (ver figura abaixo);

·   Organização regular de programas de visitantes e de seminários;

·   Aumento das actividades de aplicações e de extensão (participação organizada na promoção da cultura científica e tecnológica e do ensino das ciências no ensino básico e secundário);

·   Maior integração das actividades de subgrupos;

·   Melhor colaboração com outras unidades de investigação;

·   Reforço do recrutamento de investigadores, Pós-doutorados e estudantes de doutoramento.

 

2. Na orientação estratégica (praticamente inexistente em 1996):

·   Definição de missões e objectivos;

·   Estratégias explícitas de crescimento e consolidação;

·   Identificação de vantagens competitivas e de maiores sucessos;

·   Adopção de uma visão global do sistema científico nacional e do seu posicionamento internacional.

 

3. Na liderança:

·   Mudança generalizada da liderança formal das unidades (a liderança formal foi assumida por líderes científicos naturais);

·   Maioria das unidades de investigação mudou de líder formal entre as avaliações de 1996 e 1999;

·   Interrupção da prática anterior de considerar a coordenação da unidade simplesmente como uma função administrativa a ser desempenhada rotativamente.

 

4. Na organização interna:

·   Organização interna clarificada (direcção, conselho científico, comissão externa de aconselhamento);

·   Melhores relatórios anuais e da sua utilização como instrumentos de gestão interna;

·   Clarificação dos modelos de gestão administrativa e financeira;

·   Reforço da posição das unidades de investigação nas universidades e da sua participação institucional na gestão interna das universidades.

 

5. Nos resultados de qualidade:

·   Aumento significativo de publicações internacionais (ver figura abaixo);

·   Reforço da internacionalização (recrutamento de investigadores, pós-doutorados e estudantes de doutoramento estrangeiros - praticamente inexistentes em 1996, programas internacionalizados de visitantes e de seminários regulares);

·   Melhoria significativa das classificações de qualidade global.

 

6. No financiamento:

·   Descontinuação do financiamento das unidades classificadas com "Fraco”;

·   Financiamento de base dependente da classificação e do número de doutorados;

·   Financiamento programático para fins específicos (contratação de investigadores, bolsas, apoio técnico e administrativo, manutenção de equipamento, etc.);

·   Reforço significativo do financiamento administrado pelas unidades de investigação (1996: 7,5 MEuros, 1997: 20 MEuros, 1999: 28 MEuros).

 

7. Nas políticas de investigação:

·   Aumento da descentralização do recrutamento de recursos humanos para as unidades de investigação (investigadores, pós-doutorados, estudantes de doutoramento, funcionários técnicos e administrativos);

·   Contribuição para reforma legislativa (três decretos-lei: enquadramento legal das instituições de investigação científica e tecnológica, estatuto da carreira de investigação científica e tecnológica, estatuto do bolseiro de investigação científica e tecnológica);

·   Contribuição para planeamento (Livro banco do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Português (2000-2006));

·   Contribuição para a formulação de novos programas: Laboratórios Associados (2000-06), Programa Operacional Ciência Tecnologia Inovação (2000-2006), Programa Operacional Sociedade da Informação (2000-06), Programa Dinamizador das Ciências e Tecnologias do Mar (1998-2006), Programa do Processamento Computacional da Língua Portuguesa (1998-2006);

·   Formulação de políticas internas de universidades (desde 1997: U. Aveiro, U. Minho; desde 2000: U. Coimbra, U. Porto, U. Técnica de Lisboa).

 

8. Na informação pública:

·   Base de dados detalhada no sítio da FCT na Internet (áreas de actividade, equipa de investigação, formas de contacto convencionais e electrónicas da unidade e dos investigadores, relatórios de avaliação e classificações, comentários das unidades de investigação aos relatórios de avaliação, financiamento atribuído, composição dos painéis de avaliação);

·   Criação de sítios da grande maioria das unidades na Internet;

·   Larga disseminação pública nos jornais e na televisão dos resultados das avaliações e das correspondentes reacções.